A proteína é um nutriente essencial de grande importância para cães e gatos e é constituída por aminoácidos, responsáveis por criar tecido (músculo e órgãos, por exemplo), produzir proteínas plasmáticas e até mesmo constituir alguns hormônios.
Podemos dizer que cães e gatos utilizam mais a energia vinda das proteínas do que os seres humanos e, assim, suas necessidades são maiores. Entretanto, com o avanço da medicina veterinária, observou-se que algumas doenças poderiam se beneficiar da redução de proteínas, principalmente para reduzir alguns dos produtos que são gerados a partir delas.
Um exemplo disso é a doença renal crônica (DRC), na qual os rins não conseguem excretar ureia adequadamente, o que causa seu acúmulo no organismo. A ureia é produto da amônia, que é produto da metabolização das proteínas pelas bactérias intestinais; é um metabólito tóxico, que causa lesão de tecido, náuseas e até mesmo alterações neurológicas.
No caso da DRC, existem vários graus de comprometimento renal, sendo classificada em estágios. Para determinar a necessidade de redução da ingestão de proteína, são necessários exames da função renal, com o animal estável e hidratado, e exame de urina. Se o exame de função renal apresentar aumento persistente (ou seja, em mais de um exame) das concentrações de ureia e creatinina, ou se o exame de urina mostrar que há perda de proteína na urina, opta-se pela redução de proteína no alimento. Caso contrário, a redução é contraindicada, uma vez que a proteína mantém a massa muscular e essa relaciona-se com a expectativa de vida. Os valores de ureia, creatinina e proteína urinária que são adotados para cada estágio podem ser visualizados aqui.
Vale ressaltar que a amônia é transformada em ureia pelo fígado, portanto, animais com insuficiência hepática importante, como no caso dos shunts portossistêmicos e cirrose, podem se intoxicar com este metabólito. A amônia é ainda mais nociva que a própria ureia, pois o fígado doente não consegue transformá-la.
O shunt portossistêmico é comum em cães pequenos e filhotes, em especial da raça Yorkshire. Sendo uma doença em que há uma comunicação direta do que é absorvido no intestino com a circulação sanguínea sem passar pelo fígado, que é o órgão desintoxicador e que converte os metabólitos tóxicos oriundos da digestão. Além disso, o fígado transforma alguns aminoácidos, que são absorvidos a partir da alimentação, em outros componentes mais seguros para o organismo. Em situações em que essa conversão está comprometida, esses aminoácidos também podem causar alterações neurológicas.
Para pacientes com shunt, antes de realizar a correção cirúrgica (nos casos em que é possível), pode-se reduzir o aporte de proteínas da dieta. Mais importante do que apenas reduzir, é mudar o perfil de proteína fornecido: como dito anteriormente, a proteína é constituída de aminoácidos e alguns desses, se não forem transformados pelo fígado, podem causar alterações neurológicas. Será que existe alguma fonte de proteína que não tem ou tem menos desses aminoácidos específicos? Sim! As proteínas vegetais! Além disso, as proteínas vegetais também formam menos amônia e menos ureia, o que as torna úteis para os pacientes com DRC também.
Doença renal crônica e determinados problemas hepáticos (como shunts e cirroses) são exemplos de situações nas quais a redução e modificação do perfil de proteínas podem ser benéficos. Lembramos que qualquer modificação na dieta de animais doentes deve ser estudada e orientada por um médico-veterinário.