Desde o ano passado, devido às medidas de restrição para o combate à pandemia de COVID-19, o convívio com os animais mudou muito e tornou-se comum o trabalho e o estudo remoto. Ao passar mais tempo juntos de nossos cães e gatos, quase todas as refeições são realizadas próximas deles, enquanto nos rodeiam, com olhares e expressões estratégicas e meigas para tentar conseguir algum pedaço de nossa comida. Mas esse inocente petisco requer muita atenção, tanto pelo ponto de vista nutricional quanto pelo risco de intoxicação.
Alguns alimentos já são tradicionalmente conhecidos como perigosos para cães e gatos, como é o caso do chocolate e da uva. Eles podem causar quadros graves de intoxicação e são proibidos na alimentação dos animais. Mas alguns ingredientes muito comuns na culinária brasileira também podem representar risco à saúde do seu melhor amigo. Neste artigo vamos tratar de dois ingredientes populares que fazem parte de diversas receitas: a cebola e o alho.
Cebola e alho são plantas do gênero Allium, que também contempla alimentos como o alho-poró e a cebolinha. Essas plantas que utilizamos habitualmente na cozinha contêm substâncias tóxicas que causam danos às hemácias – células do sangue que carregam e distribuem oxigênio pelo organismo – dos animais. A intoxicação acontece com a ingestão de uma grande quantidade desses vegetais em uma refeição e também em menores quantidades repetidamente em várias refeições. É importante saber que a toxicidade não diminui ao cozinhar ou processar o alimento, ele continuará prejudicial à saúde do animal de estimação.
Muitos compostos presentes no alho e na cebola são responsáveis pela intoxicação. São princípios ativos oxidantes que irão transformar a hemoglobina (componente vermelho da hemácia) em metemoglobina (componente marrom). Esse componente muda de cor quando acontece uma alteração na estrutura de sua molécula, causada por uma reação de oxidação. Quando essa reação ocorre, a hemácia perde parte da sua capacidade de carregar oxigênio pelo corpo e a respiração dos tecidos é prejudicada. Vale lembrar que o ser humano é muito resistente ao alho e à cebola, mas algumas pessoas também podem ser suscetíveis à intoxicação.
Ao ingerir alho e cebola, cães e gatos podem desenvolver anemia, pois essas células prejudicadas começam a ser retiradas da circulação pelo baço e fígado. Eles também podem desenvolver sintomas graves e agudos, como hipotermia, comportamento mais quieto que o normal, cianose (coloração azulada da pele e mucosa em sinal de baixo oxigênio no sangue), que podem levá-los à morte.
Também podem ocorrer sinais crônicos decorrentes da anemia, como aumento da frequência cardíaca e respiratória, dificuldade para respirar, redução de atividade e aparência mais quietinha. Os gatos são mais sensíveis à oxidação da hemácia porque possuem uma hemoglobina mais vulnerável a esse tipo de dano nas células.
Atualmente, é preciso estar ainda mais atento para evitar esse tipo de intoxicação, uma vez que dietas caseiras vêm ganhando espaço. Uma dieta caseira utiliza alimentos naturais ou minimamente processados, com a possibilidade de acrescentar suplementos nutricionais específicos. Mas, para garantir saúde e qualidade de vida ao pet, é essencial procurar auxílio profissional de um médico-veterinário ou zootecnista para elaborar uma dieta balanceada.
Muitos tutores acreditam que é possível alterar a alimentação por conta própria e nesse momento os erros tendem a ser cometidos, desde deficiências nutricionais por falta de adequação da dieta às exigências da espécie até o uso de ingredientes prejudiciais e tóxicos ao animal.
E vale sempre lembrar: em todos os momentos de dúvida, o médico-veterinário ou zootecnista é o melhor amigo do cão e do gato! Não deixe de buscar suas recomendações em caso de mudanças na alimentação ou no ambiente do pet!