Nem sempre um filhote de cão ou gato tem a mãe presente para fornecer o alimento e cuidados especiais (em casos de óbito ou rejeição). Ainda assim, quando a mãe está presente, podem ocorrer algumas situações que devemos interferir para ajudar: número muito grande de filhotes (acima de sete), leite de baixa qualidade ou ausência de leite, neonatos (recém-nascidos) muito fracos que não conseguem se alimentar sozinhos ou nos casos em que é necessário poupar a mãe em razão de sua desnutrição.
Com isso, quando temos um filhotinho em nossas mãos, devemos fazer o papel de mãe, garantindo a nutrição, atenção, segurança, calor, estímulo para defecar e urinar e fornecer proteção contra doenças através da ingestão do “colostro”.
O “colostro” é o primeiro leite produzido pela mãe, até as primeiras 72h decorridas do parto. Ele é rico em imunoglobulinas (um tipo de células de defesa) que têm o propósito de proteger o filhote enquanto ele ainda não consegue produzir as suas próprias defesas imunes, por meio de sua ingestão logo após o nascimento.
A nutrição inadequada pode afetar o crescimento e saúde da ninhada, além de resultar em mortes prematuras. O neonato deve receber colostro nas primeiras 72h após o nascimento e, o volume mínimo de 1,5mL para cada 100 g de peso corporal, nas primeiras 8 horas de vida. Este alimento (o colostro) deve ser fornecido em temperatura que varie entre 30 e 35 graus celsius e deve ser aquecido em um aquecedor de mamadeira ou banho-maria, por exemplo. O micro-ondas deve ser evitado, pois pode destruir imunoglobulinas ou inativar outros componentes que estão presentes no colostro. Alguns produtos comerciais (substitutos do leite materno) apresentam nos seus rótulos a inclusão de imunoglobulinas de colostro. Eles estão disponíveis para serem comprados nos pet shops, no entanto, recomenda-se buscar sempre a orientação de um médico-veterinário antes da introdução deste manejo alimentar.
Passadas as 72 horas, os “bebezinhos” já podem ingerir o leite “normal” que pode ser obtido de uma “ama-de-leite” ou pelo uso dos “sucedâneos” /substitutos do leite. Pode ser feito um sucedâneo caseiro, como alternativa emergencial e temporária, conforme orientações veterinárias. O leite de vaca puro não deve ser utilizado, pois ele tem uma composição nutricional diferente do leite de cadelas e gatas. Muitos acreditam que ele é muito “forte”, mas na verdade ele é mais “fraco” por apresentar menor teor de proteína, energia e gordura. Todavia, possui mais lactose e por isso pode causar diarreia. Atualmente existem diversas opções de substitutos do leite no mercado, que possuem formulação semelhante ao leite original de cada espécie e, essa opção é a mais recomendada.
A amamentação deve ser fornecida a cada 4 ou 6 horas por dia e deve ser feita em posição de aleitamento, ou seja, com o animal de barriga PARA BAIXO, com pescoço e cabeça elevados para evitar refluxo, engasgos, pneumonia e desconforto abdominal. Muitos cometem o erro de posicionar o neonato de cão e gato como um bebê humano, ou seja, de barriga pra cima, o que pode provocar desconforto e engasgos e, em alguns casos, até aspiração do leite (quando ele passa para o pulmão).
Os filhotes devem ganhar peso a cada semana: cães devem ganhar de 2 a 4g por dia para cada kg de peso adulto previsto, durante as 3-4 primeiras semanas de vida. Ou seja, se o peso adulto esperado para aquele neonato for de 10 kg, ele deve ganhar de 20g (2×10) a 40g (4×10) por dia! Para se alcançar essas metas, é super importante se atentar às quantidades recomendadas no rótulo do sucedâneo que você comprou. Além disso, os neonatos devem ser pesados todos os dias, se possível; devem ser monitorados quanto ao controle da temperatura e hidratação. Portanto, o papel do médico-veterinário será fundamental para te auxiliar no melhor manejo do seu neonato.
Referências
1. Rossi, L.; Lumbreras, A.E.V; Vagni, S.; Dell’Anno, M.; Bontempo, V. Nutritional and Functional Properties of Colostrum in Puppies and Kittens. Animals 2021, 11(11), 3260. 2021.
2. Elliott, D. Nutritional considerations for optimal puppy growth. Vet. Focus 2012, 22, 2–8. 3. Heird, W.C.; Schwarz, S.M.; Hansen, I.H. Colostrum-induced enteric mucosal growth in beagle puppies. Pediatric Res. 1984, 18, 512–515.