Várias coisas podem levar os gatinhos a comerem menos e até pararem de comer de forma abrupta, mas, “quanto tempo é seguro o meu gato ficar sem comer?”. A resposta é simples: ele não pode ficar sem comer! Este fato é ainda mais importante para gatos, pois podem desenvolver uma doença secundária chamada lipidose hepática.
Gatos são animais que escondem o máximo que podem quando não estão bem pois, na natureza, quando mostravam fraqueza, poderiam ser facilmente predados. Essa característica permanece nos nossos gatos e, nós médicos-veterinários, dizemos que quando eles começam a demonstrar que algo está errado, como a falta de apetite, é porque o “buraco é mais embaixo” e algo deve estar acontecendo já há algum tempo.
De acordo com a WSAVA (Associação Mundial de Médicos-Veterinários de Pequenos Animais), o tempo máximo que podemos esperar para que o paciente volte a comer de forma espontânea é 5 dias, ou seja, antes disso é recomendado usar estratégias para tornar a comida mais atrativa, por exemplo. Caso contrário, pode ser considerado o uso de sondas para alimentação até o animal se recuperar e voltar a se alimentar normalmente. Caso esse tempo não seja respeitado, a saúde do gatinho pode sofrer maiores riscos.
Se o animal não come, o organismo precisa usar recursos para gerar energia e manter a vida. Um deles é consumir as reservas de gordura para gerar energia. Os gatos, por serem carnívoros, fazem isso de uma forma muito eficiente, o que significa que eles retiram a gordura dos “estoques” e enviam para o fígado transformar e encaminhar aos órgãos para fornecer energia. Para isso acontecer, essa gordura precisa se ligar a uma proteína específica que é responsável por dar o devido “destino” final dessa gordura (músculos, por exemplo), porém, quando o gato não come, ele não tem proteína o suficiente para isso, e então, a gordura permanece sendo estocada no fígado à espera dessas proteínas até que o fígado esteja cheio de gordura, impossibilitando o organismo de tirá-la de lá. É como se enviássemos várias cartas ao correio sem informações do destinatário.
Quando 50% do fígado fica lotado de gordura, o animal começa a ter insuficiência hepática, pois a gordura dentro dele dificulta a exercer outras funções. Os gatos que possuem maiores reservas de gordura, ou seja, os mais gordinhos, possuem maior risco de desenvolver a lipidose hepática e a desenvolvem mais rápido, as vezes em até menos que 5 dias.
A taxa de sobrevivência de gatos com lipidose hepática é de 50-60% e o tratamento é SOMENTE alimentar o gato com alimento hipercalórico em quantidades adequadas, oferecendo toda energia e nutrientes que necessita. Nesses casos, a passagem de sonda esofágica é indicada (um tubo por onde colocamos comida dentro do esôfago do animal) pois esse gato não vai querer voltar a comer por conta própria, e ele precisa disso para viver.
Outra forma que o organismo faz para gerar energia quando os gatos não estão se alimentando é através da musculatura, ou seja, começam a perder músculo para gerar energia. Quando isso acontece, os estudos dizem que a chance do animal sobreviver é menor.
Então, caso seu gato comece a apresentar reduções no apetite, leve-o para uma visita ao veterinário! Há várias estratégias que podemos utilizar com objetivo de evitar todas essas alterações.