Se você é um leitor assíduo do nosso blog, ou se interessa pela área e temática, com certeza já sabe do potencial da nutrição para garantir uma vida longa e saudável para nossos cães e gatos. Via de regra, as estratégias nutricionais visam sempre maximizar a saúde dos animais de companhia. Quando eles são jovens e saudáveis, a tarefa é um pouco mais fácil. No entanto, para os cães e gatos doentes, pode ser um pouco mais desafiador. Diante disso, a proposta de hoje é conversarmos sobre como a nutrição pode apoiar o manejo das doenças cardiovasculares em cães e gatos.

As doenças cardiovasculares, como a insuficiência cardíaca adquirida e as cardiopatias congênitas, são problemas comuns e importantes na saúde de cães e gatos. Essas condições podem afetar significativamente a qualidade de vida dos animais, exigindo cuidados especiais e intervenções para melhorar seu bem-estar. O diagnóstico precoce e a terapia farmacológico devem aparecer em conjunto com o manejo nutricional adequado, de modo a garantir um tratamento de sucesso.

É bastante comum que cães e gatos cardiopatas apresentem o que chamamos de caquexia (já comentada em outros de nossos textos): que consiste na perda significativa de massa muscular e, consequentemente, do peso corporal, comumente associada a doenças crônicas, como é o caso das doenças cardíacas. Neste caso, existe uma combinação de fatores: o animal gasta mais calorias diariamente, tem menor apetite e, então, come menos e está em constante estado de inflamação. Portanto, um animal cardiopata com caquexia está mais fragilizado e com sistema imunológico enfraquecido, o que pode comprometer o tratamento. Este é um dos problemas centrais, mas a nutrição também pode auxiliar em outras condições específicas. Trata-se de um tema complexo e bastante amplo, mas que será tratado de uma maneira resumida e generalista: alimentos ricos em proteínas de qualidade, ácidos graxos essenciais, com equilíbrio de certos minerais e inclusão de nutracêuticos voltados para a saúde muscular são fundamentais para melhorar a condição geral dos animais.

A importância de cada nutriente:

Proteínas: A ingestão adequada de proteínas é crucial para animais que apresentam caquexia cardíaca. Dietas que contêm proteínas de alta qualidade são essenciais para evitar a perda muscular e sustentar a função cardíaca. A restrição proteica não é recomendada nesses casos, pois pode acelerar a degradação muscular e agravar a perda de peso.
Ômega-3: Os ácidos graxos ômega-3, especialmente EPA e DHA, são fundamentais para animais com doenças cardíacas, pois suas propriedades anti-inflamatórias ajudam a reduzir a inflamação sistêmica e a melhorar a função do miocárdio. A suplementação de ômega-3, particularmente em casos avançados, auxilia na redução da inflamação.
Sódio e Cloreto: Em animais saudáveis, o organismo elimina o excesso de sódio com facilidade. No entanto, em pacientes com doença cardíaca, essa eliminação é prejudicada. Portanto, o controle da ingestão de sódio é essencial para cães e gatos cardiopatas. As dietas devem ser ajustadas em relação ao sódio e ao cloreto, embora as evidências científicas sobre seus benefícios ainda sejam limitadas. De toda forma, recomenda-se uma restrição moderada do sódio nestes animais.
Potássio e Magnésio: O potássio e o magnésio são vitais para a saúde cardiovascular. A deficiência desses minerais pode causar arritmias, fraqueza muscular e aumentar os efeitos adversos de certos medicamentos. Em cães e gatos com insuficiência cardíaca congestiva, manter o equilíbrio desses eletrólitos é essencial, pois complicações como perda acentuada de potássio e magnésio são comuns, devido ao uso de diuréticos. Monitoramento regular e suplementação ajudam a garantir estabilidade e qualidade de vida desses pacientes.
Taurina: Essencial para gatos, a taurina é importante para a saúde cardiovascular e a prevenção de cardiomiopatia dilatada. A deficiência de taurina pode causar degeneração do miocárdio, especialmente em raças predispostas. Embora cães não dependam da taurina, a suplementação também pode beneficiar aqueles com predisposição à doença.
Arginina: Esse aminoácido é essencial para a produção de óxido nítrico, um vasodilatador que auxilia na regulação da pressão arterial e na função vascular. A suplementação de arginina pode beneficiar cães e gatos com insuficiência cardíaca congestiva, melhorando a circulação e o desempenho endotelial.
Antioxidantes: Antioxidantes como vitamina E e selênio ajudam a proteger as células cardíacas do estresse oxidativo, que se encontra aumentado em animais com doenças cardiovasculares. A suplementação com esses antioxidantes pode reduzir danos causados por radicais livres, retardando a progressão da doença e promovendo uma saúde cardiovascular mais robusta.
Outros nutracêuticos: Os principais e mais estudados são a L-carnitina e a coenzima Q10. A L-carnitina é essencial para o metabolismo energético do coração, auxilia no transporte de ácidos graxos para as mitocôndrias, e promove saúde cardíaca, o que pode ser benéfico no manejo da cardiomiopatia dilatada em cães. A coenzima Q10 está envolvida na produção de energia celular e possui ação antioxidante, é promissora no manejo de doenças cardíacas e pode contribuir para a saúde miocárdica e redução do estresse oxidativo.

O manejo nutricional de cães e gatos com doenças cardiovasculares é indispensável para melhorar a qualidade de vida e retardar a evolução da doença. Neste sentido, a adaptação da alimentação para cada caso específico, considerando comorbidades e sinais clínicos, é fundamental para o sucesso terapêutico. Com intervenções nutricionais adequadas e acompanhamento constante, é possível otimizar o prognóstico e proporcionar uma vida mais longa e saudável para nossos cães e gatos cardiopatas.