Enfim chegamos neste assunto… hoje é dia de falar sobre os tão “temidos” BHA e BHT. Antes de mais nada, para situar todos os leitores, cabe explicar o que são e para que servem estes compostos. O BHA, também chamado de hidroxianisol butilado, e o BHT, denominado hidroxitolueno butilado, são antioxidantes sintéticos extremamente eficazes em estabilizar óleos e gorduras — que são muito suscetíveis ao processo de oxidação da gordura. Como os alimentos para cães e gatos são ricos em gorduras, seu uso se torna imprescindível para a indústria.
O BHA é utilizado como um estabilizador das gorduras e óleos de nossas dietas desde 1947, e o BHT veio um pouco depois. É bem fácil entender o porquê da combinação dos dois: o BHA doa seus elétrons para impedir que gorduras oxidem, e o BHT doa seus elétrons para o BHA continuar mantendo seu mecanismo antioxidativo. É como se o BHT fosse um antioxidante de BHA. Por isso funcionam tão bem juntos!
O problema é que a fama dos antioxidantes sintéticos não está muito boa. Ultimamente, a busca por alimentos “naturais” já nos leva a olhar desconfiados para compostos artificiais. No entanto, muitos veiculam informações de que o BHA e o BHT causam malefícios e são cancerígenos para cães e gatos. E é nesse ponto em que mora o terrorismo nutricional. As evidências científicas utilizadas para validar o argumento são retiradas todas de estudos toxicológicos. Ou seja, estudos que utilizam doses altíssimas para observar o limite e a resposta do organismo. São estudos antigos, mas que basearam o conhecimento para que o BHA e BHT continuassem sendo utilizados na indústria alimentícia humana e pet por tantos anos.
Mas o estudo e o acompanhamento do BHA e BHT não param por aí. Em 2019, a European Food Safety Authority (EFSA) publicou o painel mais recente sobre a segurança do BHA para consumo animal. Três anos depois, também publicou o painel sobre BHT. Nesses painéis, estão estabelecidos os limites de inclusão de BHA e BHT nos alimentos para cães e gatos. A boa notícia? O Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (MAPA) publicou, em 2020, a Instrução Normativa nº 110, que define limites de inclusão iguais aos europeus. Afirmo com segurança para vocês, os teores permitidos são, pelo menos, mais de cinquenta vezes menores do que as doses utilizadas nos estudos toxicológicos veiculados.
É com base em uma vasta literatura que puderam concluir que o uso combinado de BHA e BHT não causa malefícios quando empregado nas dosagens permitidas. Ainda, evidências demonstram que antioxidantes naturais, como a vitamina E, quando em excesso, apresentam comportamento prejudicial para o organismo animal. O que fica é a reflexão: qual alimento, medicamento ou cosmético que, quando utilizado cinquenta vezes mais do que o recomendado, não causa mal para a saúde humana e animal?