A encefalopatia hepática é um conjunto de anormalidades neuropsiquiátricas que afeta cães e gatos com problemas no fígado. Essa condição é resultado do acúmulo de substâncias que o fígado não consegue metabolizar, como a amônia, produzida pelo metabolismo de proteínas.
O achado mais comum associado à encefalopatia hepática é a hiperamonemia (excesso de amônia no sangue). Normalmente, a amônia é transportada pelo sangue até o fígado, onde é convertida em ureia e excretada pelos rins. Quando os hepatócitos (células do fígado) estão comprometidos, essa conversão não ocorre adequadamente, resultando em aumento de ureia e amônia no sangue, que são tóxicos e afetam o sistema nervoso central (SNC).
Como isso ocorre? O aumento da amônia provoca alterações no SNC, incluindo modificações no transporte de substâncias entre o sangue e o cérebro, alterações no metabolismo energético e efeitos neurotóxicos sobre os astrócitos (um tipo de célula presente no SNC), resultando em uma diminuição na síntese de glutamato, uma substância importante para a sinalização cerebral.
Algumas das estratégias nutricionais para o manejo dessa condição incluem: restrição de proteínas (entre 2,1 e 2,5 g por kg de peso coporal) e fornecimento de proteínas de alta qualidade; a suplementação com certos aminoácidos pode ser benéfica. A utilização de fibra solúvel, prebióticos e probióticos é recomendada para alterar a microbiota intestinal e favorecer o crescimento de bactérias que metabolizam amônia. A suplementação de zinco também pode ser aconselhada para alguns casos, para evitar a fibrose no fígado. Os antioxidantes também podem ser utilizados.
A inclusão de proteínas de origem vegetal na dieta pode ser uma estratégia, já que alimentos com proteína animal tendem a elevar os níveis de amônia. Estudos mostram que cães com desvio portossistêmico apresentaram menores níveis de amônia quando alimentados com dietas à base de soja. Mesmo com restrição de proteínas e uso de proteínas de origem vegetal, devemos atender todos os nutrientes dos animais de acordo com as diretrizes para cães e gatos.
Em animais com encefalopatia hepática, observa-se uma diminuição de aminoácidos de cadeia ramificada. Esses aminoácidos são importantes por várias razões: ajudam a manter o balanço proteico corporal, servem como fonte de nitrogênio para a síntese de outros aminoácidos, estimulam a síntese de proteínas no fígado, e regulam o processo de produção de músculos, e promovem crescimento das células do fígado (hepatócitos). Além disso, os aminoácidos de cadeia ramificada apresentam um metabolismo mais ativo no músculo esquelético, que resulta em uma menor produção de amônia e contribui para o processo de desintoxicação dessa substância no organismo.
Em resumo, a abordagem nutricional na encefalopatia hepática em cães e gatos deve focar na restrição e na escolha cuidadosa das fontes de proteína, além de estratégias para modular a microbiota intestinal, visando minimizar os efeitos tóxicos da amônia e melhorar a função do fígado. É importante lembrar que qualquer tratamento e alteração de dieta deve ser acompanhado por um médico-veterinário especializado em nutrição.